Amar, amor.

Um dia cheguei agoniada, estava tão feliz que a luz dos meus olhos era lanterna apontada para meu caminho.  Encontrei minha amiga numa das minhas correrias. Tinha procurado-a para contar uma novidade.
Chegando a ela, vi em seu rosto ou olhar de estranhamento. Ignorei e segui adiante:

- Que bom te ver! Te procurei tanto!
- Pronto! Já achou! O que é que te ocorre pra que esteja tão animada?
- Eu finalmente descobri!
- Descobriu o que menina? Tô ficando até tensa...
- Eu descobri que estou AMANDO!
- Sério? Finalmente! Tava demorando. E quem é? Conta logo.
- O AMOR! Estou amando o amor!
- Como é que é? Você tá com febre? Bateu a cabeça? Pirou?
- Não, eu descobri o que estava dentro de mim.
- Peraê! Me conta como é isso ai que eu não to entendendo mais nada.
- Enquanto ouvia umas musicas, tive uma epifania a la Clarisse Lispector. Vi o quanto o amor me fazia bem. E não era só na musica. Era na vida. Vi como me derreto ao ver o amor. Nas outras pessoas, sim, mas está lá. E é tão lindo... cheio de graça, de charme, suave...
- Deixa de besteira mulher! Se ama gente!
- Nada disso! Se ama bicho, lembrança, coisa, porque eu não posso amar sentimento? Além do mais o amor é meu, e eu dou pra quem quiser. (...)

Até eu estranharia uma conversa dessas. Mas não havia muito que eu pudesse fazer. Queria a presença do amor, o que ele trazia, os corações, os sacrifícios; a baderna e o silencio; a música e a dança, a foto e a lembrança. E quando eu o via... descrito ou exposto, ah, que bem fazia...
É, quem iria adivinhar ou entender? Eu amava o amor, e amava de morrer.

Alessandra Carvalho