Ano novo, beach e carinho.

Já era ano novo. Os fogos já haviam sido estourados, as garrafas de espumante já estavam vazias. O artista principal acabava de encerrar seu show de virada. Mas nós ainda estávamos na praia, vendo o tempo passar. Éramos eu, você, e os nossos segundos eternos.

Canga no chão, você, e eu deitada no seu colo. Isso não é sobre amor, mas sobre conforto. Parada, deitada e aconchegada. Ao meu lado o vento e o frio. Diante dos meus olhos, pessoas migrando, mulheres bêbadas dançando e entrando na água, mulheres cobertas de lantejoulas. Minha imobilidade e os homens dizendo palavrões indizíveis, metidos em brigas ignóbeis; casais felizes (de longa data e recém formados). E a música ao longe, enrolava o público até o próximo show. As conversas, ao longe. Crianças correndo, crianças dormindo. O frio da madrugada, a areia suja, e a maré enchendo.

No céu, as "Três Marias", Vênus e a lua. No mar, barcos abandonados e lanchas iluminadas, flutuando na água sem cor, que contrastava com a tradicional mistura de todas as cores. Na areia, eu, no meu ninho.
Éramos eu, seu colo quente, um mundo insignificante ao nosso redor, e o universo inteiro acima de nossas cabeças

(Alessandra Carvalho)