terça-feira, 25 de junho de 2013

O Retorno do Jovem Principe - Capítulo XII (fragmento)


Na manhã seguinte partimos cedo, impressionados com a imensidão que se abria diante de nós. Apesar da secura, a paisagem tinha seus encantos, talvez porque levássemos conosco o desejo de admirá-la. Distraidamente, o Jovem Príncipe afagava [o filhote de cachorro] Asas, que se aninhara em seu colo. Eu podia perceber que alguma coisa o preocupava, mas respeitei seu silêncio. Depois de algum tempo, ele disse:
- Eu não quero ser uma pessoa séria.
- Que ótimo - respondi.
- Mas eu vou crescer - continuou ele.
- Sim, certamente - concordei.
- Nesse caso, como posso crescer sem me tornar uma pessoa séria: - perguntou, revelando o que o preocupava.
- Boa pergunta - disse eu. - Tão boa na verdade que nunca encontrei uma resposta adequada para ela. Quando somos jovens, saímos pelo mundo, um mundo muito diferente daquele onde vivíamos com nossos pais - pelo menos para os felizardos entre nós que ouviram contos de fadas e histórias de príncipes e castelos encantados. Então, começamos a encontrar egoísmo, incompreensão, agressividade e falsidade. Tentamos nos defender e preservar nossa inocência, mas a injustiça, a violência, a superficialidade e a falta de amor continuam a nos assombrar. E nosso espírito, em vez de espalhar luz e felicidade ao redor, começa a se recolher e se ocultar no fundo de nós. E chega o momento em que o mundo com o qual sonhamos em nossa juventude começa a tremer diante do avanço implacável da realidade. Existem aqueles que, neste ponto, descartam seu tesouro de sonhos e ancoram suas vidas na segurança ilusória do pensamento racional. Viram indivíduos sérios, que adoram números e rotinas, que por sua vez, lhes dão uma aparente segurança. Entretanto, como a segurança nunca é abrangente, eles jamais conseguem ser felizes. Então começam a acumular posses, mas sempre há algo faltando. Possuir coisas não os torna felizes, pois os afasta da simples existência. Eles valorizam os meios e não os fins.
- Então por que se isso não faz com que sejam felizes, os adultos dedicam a maior parte do tempo a obter mais coisas? - perguntou o Jovem Príncipe sensatamente.
- Pensar que a felicidade depende de se possuir alguma coisa é uma autoilusão reconfortante. Como depende de ter, não de ser, buscamos algo que está fora de nós. Assim, não precisamos olhar para nosso interior. De acordo com essa forma de raciocínio, podemos ser felizes sem mudarmos nossa maneira de ser. Basta obter isto e aquilo.
- Mas as pessoas não se dão conta dessa ilusão? - perguntou o Jovem Príncipe, achando difícil acreditar que a humanidade pudesse ser tão cega.
- O que acontece, meu jovem amigo, é que nossa sociedade multiplicou tremendamente a quantidade de coisas que podem adquiridas. E enquanto não obtêm até a última delas, as pessoas não percebem que tomaram o caminho errado. Elas se agarram a qualquer possibilidade, por menos que seja, contanto que isso signifique não ter de mudar. O problema é que, quando conseguem adquirir a última coisa, já perderam a primeira. São como aqueles mágicos que pões vinte piões para girar ao mesmo tempo, sem deixar nenhum parar. Mas os mágicos só têm vinte! Além disso, quando os indivíduos adquirem alguma coisa, logo querem mais uma. Aquela que pensavam que seria a última já não é a última. Então, passam o resto da vida nessa busca infrutífera, pulando de uma coisa para outra, como se fossem pedras no fundo de um rio que eles jamais conseguirão atravessar. Aqueles que buscam posses geralmente estão atrelados ao futuro. Nunca aproveitam o presente, pois toda a sua atenção está focada em uma coisa que deve acontecer em seguida.
- O que eles deveriam fazer? - perguntou meu jovem amigo, acariciando Asas.
- Apenas mergulhar na realidade da existência e se deixar levar pela corrente. Devem se concentrar em viver, sentir e amar cada momento, sem ficarem tão obcecados com o objetivo final da viagem. Afinal de contas, o sentido da existência é exatamente sentir. Quando os obstáculos se apresentam, suas formas podem ser adaptadas para outras formas, permitindo que as pessoas reafirmem sua essência e sigam seu caminho, assim como um rio modifica a forma de seu leito enquanto segue seu curso. O mais importante é estar plenamente vivo, com os sentidos receptivos e com a capacidade para amar, aproveitar a vida e criar, aqui e agora, sem ficar atrelado ao passado nem ao futuro.
(...)

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Sobre os movimentos político-sociais brasileiros em 2013

 

Vejo todas essas manifestações e uma questão não cala: de onde vem tudo isso? Eu tenho o costume de me perguntar o que acontece em uma realidade onde movimentos sociais ou posicionamentos ideológicos são tomados de forma tão imediata.

Concordo que a mudança é necessária. Sou a favor e acho que não deve se calar a frase VIVA LA REVOLUCIÓN!! Mas a questão é que acho a realidade brasileira muito mais complexa do que é exibido nas redes sociais, por exemplo. Não que eu ache que o Brasil não tem jeito, ou que a mudança seja impossível. Não. Mas só acho que a visão político-ideológica desses movimentos brasileiros são demasiadamente superficiais.

Muitos grupos de movimento (pois isso é o que vemos. Vários grupos meio perdidos no meio) estão aproveitando o momento em que a voz é dada e defendendo a causa. Acho super justo. Porém, pensemos em um objeto pesado no qual são presas várias cordas. Pensemos agora que cada corda é segurada por um grupo por lados distintos. Pensemos que eles estão em círculo, e que o objeto pesado está no meio. Cada grupo tenta puxar para si o objeto com a corda. Ora, há muito movimento, muita força, mas não seria melhor e mais útil que todos levassem a um só caminho? Para mim, esse é o contexto brasileiro. O objeto pesado é o Estado. Todos vão às ruas buscando direitos, alertando mas... apesar das lideranças, nem todos veem a profundidade das questões.

Outro questionamento é: de onde vem o discurso? É importantíssimo que o locus (isto é, o local de origem) das lideranças seja analisado. Seres pensantes e líderes são válidos e mais que necessários. Não é errado que os levantes sejam organizados e conduzidos por uma parcela da população que pode ser mais abastada. Mas é preciso lembrar que já passamos por movimentos parecidos. Durante o impeachment, por exemplo, houve injustiça, mas o movimento só foi incentivado pelas mídias de massa, porque convinha a eles tal evento. Os donos de empresas, ou seja, a burguesia brasileira, também foi prejudicada. Então o que pergunto é: porque esses que hoje lideram assim o fazem? Não vejo no Brasil ações políticas que sejam por pura filantropia. Isso não acontece nem com a abolição da escravatura, ou com o incentivo à industrialização brasileira, ou nem mesmo o auxílio miséria (dos 70 reais por mês), que foi exigido pela ONU. O que há por trás disso?

Eu posso não saber as respostas, mas como dizia um comercial do canal televisivo Futura: "O que move o mundo não são as respostas, são as perguntas". E deixo, pois as minhas: para onde estamos indo? Contra quem, ou o que, lutamos? Um partido? Uma ideologia? O Estado ou as leis? Uma pessoa? Temos consciência do que dizemos? Não façamos das questões ideológicas, algo simplista. A persuasão não vem só da TV. O amontoado de informações que temos na rede social não pode fechar o nosso olhar, restringindo-o a uma realidade.

Antes que se torne dúvida, não estou em lado algum. Pelo menos não agora. Mas acho necessário observar essa realidade para descobrirmos o que de fato acontece ao nosso redor.


Alessandra Carvalho (17-06-2013)



P.S.: Se você não entendeu as críticas feitas nesse texto, ajudaria, acredito eu, assistir aos vídeos das vaias à presidenta Dilma, a crítica de Arnaldo Jabor, e o vídeo da anonnymous postado em resposta a ele.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Cardiofagia

Certa vez me apaixonei por uma estranha. Estranha por não me lembrar o familiar. Estrangeira de mim e do meu meio. Provavelmente cigana sem medo.

Eu a via por aí. Nos corredores, no ponto de ônibus... às vezes na máquina de café. O fato de pouco saber sobre ela tornava intrigante a minha paixão. Não sabia se era ela ou o mistério que a envolvia. Mas quando ela passava, o seu perfume inebriava, atingindo meus sentidos.

De falar, nos falávamos pouco, o necessário e pouco mais. Se bem que mesmo que fosse muito, seria pouco pra mim. Parecia que ela percebia o meu encanto, e por isso me maltratava: não falava sobre si, era charmosa, mas esquiva, seduzia se guardando, sem me deixar portas de entrada.

Depois de um tempo, notei, que o minuto da conversa se alongava. Fui animando, me alegrando. Daria certo, seria minha. E o peito de macho querendo se abrir, mas preso pelas incertezas.

Um dia, ao encontra-la, por aí, como a via, ela veio em minha direção. Olhos de cobiça, ávidos. Passos de tango, firmes. Postura de gente, decidida. Meu coração que já estava na taquicardia costumeira, foi pego de surpresa e bateu tão rápido que subiu à boca. Ela, pegando-me pela nuca, me beijou. A língua vasculhava minha boca. Finalmente encontrou o que procurava. Pegou meu coração e comeu. Coitado de mim. Numca mais vi meu coração. Nem a mulher. A estranha estrangeira de mim.

Alessandra Carvalho

domingo, 19 de maio de 2013

O despertar de um instinto assassino

Eu sempre fora uma pessoa absolutamente pacífica, mas cometi um erro irrepreensível: tinha contato com a ex do eu namorado. E pior! Éramos amigas.

Eu o namorava sem o seu conhecimento, ou melhor, sem o seu consentimento. Achava desnecessário, uma vez que ela até já tinha se envolvido com outro alguém. Pra minha lógica, o fato de ele ter sido o seu mais forte amor pouco importava agora. Eles tiveram um fim, e pelo que entendo de etimologia e significância, essa palavra "fim" não permitia nenhuma continuidade.

LargeMas por um certo respeito, eu ainda não tinha falado que estavamos juntos, até porque não há tanto tempo assim.
Sobre nós (eu e ele, e não eu e ela), foi um caso de despertar o que estava recluso e, quem sabe guardado desde os tempos remotos. E o começo não importa, porque somos agora café e leite, preto e branco, filme e pipoca.

Ontem porém aconteceu algo interessante, intrigante se pode até dizer. Minha amiga, conversando comigo, mencionou entre outras coisas:


- Você tem falado com Bernardo?
- Ás vezes, por quê? - respondi com desinteresse.
- Eu vi que ele mudou o visual, ficou mais bonito... O encontrei na faculdade há umas semanas.
- É, eu vi também. Tá bonito mesmo.
- Sabe que ele me ligou?
- Ah, foi? Pra que?
- Ah, não sei, disse que queria me ver, que tava com saudades... Até estranhei...
- É, muito estranho mesmo... - até demais no meu pensar.

Por fora eu fingia ser a pessoa mais calma do universo, mas minha cabeça explodia! Como assim ele a ligou? E ainda por cuma estava com saudades? Da ex? Eu não acreditava do que estava ouvindo. Logo comigo que sempre fui uma compaheira, pessoa acima de ciumes e da traição!

E foi assim, com um sorriso falso e dissimulado que conhei meu instindo assassino. A cretina da minha amiga nem deve ter percebido. Olhava outras coisas, sem interessa. Eu, desconversei, e tomada pela fúria, fui para casa.

Eu queria matar todos, e pouco me importavam as consequeências. Até queria que ficassem juntos, se fosse lado a lado, no caixão. Pensei em enviar uma bomba torpedo, para o celular do meu amor. A mensagem assim seria: "Meu bem, logo com a Cecília?" Por que?" e depois BUM! Explosão devastando o seu quarto. Mas se bem que daria muito trabalho pegar uma dessas com os iranianos. Sim, daria. Mas antes, eu iria encontra-lo. Já tinhamos marcado e eu iria para a sua casa.

Ao chegar lá, Bernardo estava tomando banho e deixou o celular em cima da cama. Nao desisti e fui conferir na chamada. Lá estava: o número da dita cuja, nas ligações efetuadas há duas semanas. Eu estava em fúria! Ele mal tinha saído do banho e fui controladamente gritando em sua direção.

- Por que você ligou pra Cecília, Bernardo?
- Eu liguei pra ela? Quando?
- Há duas semanas! Nem diz que não foi porque eu vi no seu celular.
- Por que você fez isso?
- E então o que foi? Tá com saudades dela? Tá querendo voltar ou o que?
- Meu amor, meu amor, calma. Me deixa explicar.
- Hahaha! Tenta então!
- Olha, Cecília esqueceu um pacote na faculdade. Como estava com o nome completo dela e com o celular, fiz o favor de ligar e avisar. Eu faria isso se fosse qualquer pessoa. Agora para como isso que você sabe que eu te amo e não faria isso com você.

Minha pressçao baixou imediatamente. Eu acreditava piamente que meu bem era inocente.

- Foi só isso?
- Foi, juro, agora vamos ali que hoje reservei um filme pra gente.
- Justo hoje? É que tenho que ir resolver umas coisas em casa.

Pronto. Uma desculpa, e a manobra evaziva deu certo.  Eu não queria ver filme nenhum. Se ele era inocente, a culpa era da piranha da Cecília, que queria nos separar. Ela deve ter descoberto de alguma forma. Mas não daria a ela o direito de interferir. Eu queria explodir seus miolos.

Surgiram vários planos. O primeiro sugeria um sequestro: eu a levaria amarrada para o deserto e atiraria nela até a sua morte. Eu nem sei quantas vezes imaginei atirar, mas eu sei que me era agradável. Mas esse plano era trabalhoso. Imaginei então mandar um míssel teleguiado. Mas isso me custaria muito... Se eu a matasse afogada, seria muito baixo...
 Decidi então não matar. Dei a ela uma caixa de bombons, de framboesa, já que ela é alérgica... e disse que ele tinha enviado. Depois fui pra uma festa com meu bem. Tiramos muitas fotos, sim...

Logo todos estariam felizes... Minhas fotos na internet e Cecília com rosto inchado. Mas se olharmos os fins e compararmos com as idéias... Acho que não sou uma pscicopata, ou nada do gênero. Posso até ser impulsiva mas... fica tudo na minha cabeça.

(texto ficcional. Qualquer semelhança com a realidade é mera conhecidência)